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METÉRIA PUBLICADA NO ESTADÃO- Evandro Mello - 04/03/2023

Estresse e ansiedade causados pela desorganização financeira pode abalar casais e famílias inteiras


 

Quantos casais você conhece que se separaram por conta de brigas sobre dinheiro? E quantos filhos têm traumas causados por essas brigas? Irmãos que se afastam por não chegarem a um acordo sobre as finanças, amizades que se rompem por conta de dívidas não pagas.


Quando falamos em educação financeira, não estamos falando só de finanças pessoais. Estamos falando também de relacionamentos interpessoais e de saúde mental.

Segundo a psicóloga e psicanalista Layla Thamm, que realiza atendimentos em psicologia econômica, o jeito como lidamos com o dinheiro é, geralmente, o jeito como lidamos com a vida. “Muitas vezes, uma vida financeira organizada reflete uma organização interna da pessoa”, diz.


Ao mesmo tempo, se a pessoa tem sentimentos confusos e traumas de infância, sua relação com o dinheiro tende a não ser positiva. É o caso de pessoas extremamente ansiosas e inseguras que buscam no consumo excessivo uma saciedade para suas agitações internas, por exemplo.


Instabilidade na família


Selma Faria Silva Bortolli, 60 anos, dona de casa, conta que a instabilidade financeira abalou sua família. Por terem um negócio próprio, uma padaria, as oscilações entre ganhos e perdas eram grandes e, sem um planejamento financeiro que permitisse a construção de uma reserva de emergência, na primeira crise, ela e seu marido se viram em uma situação difícil de sair.

“Nossa relação com o dinheiro sempre foi ruim, nunca tivemos um cuidado financeiro. Tivemos uma vida muito boa, vivíamos com folga, mas a partir de 1995 começamos a ter um declínio por conta da falta de planejamento”, conta. “Quando meu segundo filho nasceu, em 2001, já estávamos em uma situação bem ruim, de muitos altos e baixos.”


João Victor Bortolli, 21 anos, filho de Selma, conta que, quando criança, não percebia a falta de dinheiro, pois seus pais não falavam abertamente sobre isso e nunca deixavam faltar nada em casa. No entanto, percebia sua mãe estressada. Muitas vezes, “sem motivo”.

“Hoje eu entendo que alguns comportamentos dela eram porque ela estava desgastada pela preocupação em relação ao dinheiro”, diz João. Segundo a psicóloga, é muito comum que o endividamento de um membro da família acabe afetando a família toda. Em muitos casos, há a busca por um culpado, quando na verdade o foco deveria ser em uma reeducação financeira de toda a família.

“Os limites do que é de um e de outro não ficam bem delimitados, pois são realizados empréstimos dentro da família, uso compartilhado de cartão de crédito etc, o que acaba levando ao endividamento de todo o grupo familiar. Essa situação abala as relações familiares, em que a dinâmica própria de afetos fica muito misturada com a situação financeira”, explica Layla.

Ao mesmo tempo, a mudança no padrão de vida abala as relações de amizade e podem acabar isolando as pessoas da família do convívio social. Selma conta que conforme a crise foi se instalando em sua casa, seu grupo de amigos foi se tornando cada vez menor, já que ela e o marido não tinham mais condições de comparecer aos eventos, como viagens para a praia e festas.

“É algo muito intenso que só quem vive entende. Eu sou muito grata por eu e meu marido termos conseguido ficar juntos, pois conheço muitos casais que não aguentaram a crise financeira e acabaram se separando”, diz a dona de casa.


Saúde mental


A instabilidade nas relações causada pelo dinheiro reflete e ao mesmo tempo afeta a saúde mental, gerando um efeito de bola de neve. Ao mesmo tempo, o sentimento de constante tensão gerado pela incerteza sobre as condições financeiras para honrar os compromissos no próximo mês afeta diretamente a mente.

Em 2022, o endividamento de famílias bateu recorde no Brasil. Na pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita anualmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,9% das famílias se declararam endividadas.

Nesse cenário, o resultado é uma maior taxa de adoecimento por ansiedade, depressão e insônia. “A saúde mental da população fica prejudicada, porque diferente do que a maioria das pessoas pensa, saúde mental envolve muitos fatores, e não tem a ver só com terapia e\ou medicação”, reforça Layla.

Segundo a psicóloga, saúde mental tem a ver com alimentação de qualidade, transporte, tempo adequado de sono, atividades físicas, trabalho satisfatório, estar inserido em relações de qualidade com família e comunidade, entre outros fatores que podem ser limitados pela condição financeira.

“A auto estima também é prejudicada, que é a auto imagem daquela pessoa. Na nossa cultura, ser endividado está se tornando regra, mas ainda é comum que o endividado se veja como uma pessoa que fracassou, se culpando exclusivamente pela situação, sem conseguir enxergar os diversos fatores culturais, sociais e educacionais que contribuíram com o endividamento”, diz a especialista.


Educação financeira é semente que, depois de plantada, se espalha


Depois que João, filho de Selma, passou pelo programa da Multiplicando Sonhos, em 2019, quando estudava no colégio Dom Pedro I, a relação da família com o dinheiro mudou. Selma conta que, pela primeira vez, a família conversou sobre educação financeira em casa.

“Ele chegava da escola compartilhando o que tinha aprendido nas aulas e mostrando que não precisa ter muito dinheiro para poupar. O importante é poupar alguma coisa”, conta a mãe. Hoje, João trabalha como estagiário de educação física e já investe parte do seu salário pensando no futuro.

“Meu outro filho, mais velho, também já começou a se planejar melhor financeiramente e tem uma previdência privada, coisa que eu e o pai deles nunca fizemos”, conta Selma. “Meu foco hoje, além da sobrevivência minha e do meu marido, é que meus filhos tenham uma vida financeira diferente da nossa – e graças a Deus isso tem acontecido”, finaliza.

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METÉRIA PUBLICADA NO ESTADÃO- Daniel Rocha - 20/11/2022

No município cearense, cerca de 21 mil alunos aprendem a lidar com o dinheiro de forma lúdica por meio de jogos O projeto é uma iniciativa do Instituto Brasil Solidário (IBS) em parceria com a Secretaria de Educação de Sobral.

A ação também atende 291 municípios espalhados em todos os Estados brasileiros

A ideia do projeto é reduzir o índice de endividamento entre as famílias brasileiras


 


Aos 12 anos de idade, Edilany Marques já aprendeu a poupar. Todo o dinheiro que recebe dos pais vai para um “potinho” que ganhou nas suas mãos a função de cofre. É nesse recipiente que a estudante espera conseguir juntar dinheiro para conseguir trocar de celular. A ideia é comprar um modelo mais novo e moderno que possa lhe auxiliar nos estudos. “Toda vez que quero alguma coisa e que não preciso deixo de lado para poder comprar algo que preciso no futuro, que é o meu celular”, diz.


Educação Financeira na escola deveria ser obrigatório?

Essa determinação ajuda a adolescente a estar mais próxima do seu objetivo financeiro todas as vezes que recebe dinheiro dos pais. E mesmo quando surgem imprevistos, Marques tem a maturidade de não ficar desanimada e saber recomeçar na sua trajetória financeira. “Não podemos ver um obstáculo e parar. Precisamos progredir até conseguir o que a gente quer”, afirma.



Aos 12 anos de idade, Edylane Marques já possui uma maturidade sobre educação financeira em relação a realidade da maioria dos brasileiros graças ao projeto educacional (Foto: Daniel Rocha/E-investidor)

Essa consciência é um dos resultados de um trabalho pedagógico voltado para a educação financeira realizado na escola Professora Maria José Santos Ferreira Gomes, onde Marques estuda, localizada no município de Sobral, a 330 quilômetros de Fortaleza (CE). A adolescente e outros 21 mil alunos da rede pública de ensino do município cearense fazem parte de um grupo privilegiado que tem a oportunidade de aprender a lidar com o dinheiro ainda na infância.


Graças às atividades realizadas por meio do projeto “Jogos de Educação Financeira” oferecido pelo Instituto Brasil Solidário (IBS), as crianças e adolescentes da cidade de Sobral aprendem a lidar melhor com o dinheiro e, o mais importante, entendem sobre a necessidade de poupar. “Ao trabalhar em grupo, as crianças precisam fazer acordos e aprendem a lidar com os prejuízos financeiros. Então, mostramos como se joga e falamos sobre a importância da educação financeira para as nossas vidas”, diz Ana Cecília dos Santos, orientadora educacional da escola José da Matta e Silva.


Todo esse processo é feito de forma lúdica, “longe” da realidade do mundo adulto. Pelo menos uma vez ao mês os estudantes de 6 a 10 anos de idade são convidados a brincar de um jogo de tabuleiro, chamado Piquenique. Em cada rodada, participam seis jogadores que terão o desafio de chegar até o parque (linha de chegada) com o dinheiro suficiente para comprar os alimentos selecionados no início da partida e ainda com uma reserva financeira.


Ao longo do percurso, os estudantes enfrentam desafios como pagar a conta de luz e demais despesas de casa ou escolher comprar outro alimento além dos selecionados no início da partida. As tentações são tantas que Larissa Rodrigues, de 10 anos, precisa manter o foco para chegar até o fim do jogo com o saldo positivo. “Eu costumo separar o dinheiro para as contas ou para pagar alguma ‘prenda’ para outros jogadores e o restante guardo para comprar os alimentos”, diz Rodrigues, sobre sua estratégia.


O lúdico também é adotado para as crianças a partir de 10 anos. Mas ao contrário das turmas mais novas, a dinâmica costuma ser feita com outro tipo de game, chamado de Bons Negócios. Trata-se de um jogo de cartas que instiga os adolescentes a negociar e a desenvolver as habilidades de empreendedorismo e de investimentos.


E quando os alunos estão inseridos nesta atividade, as negociações são intensas. As ofertas chegam a dobrar o valor inicial dos produtos disponíveis. “Esse jogo nos ajuda a nos preparar para a vida porque, no futuro, vamos ter gastos e vamos precisar fazer investimentos”, diz Marques.


Combate ao endividamento


Lidar com o dinheiro de forma consciente pode até parecer uma atividade simples quando se já possui uma renda. Basta priorizar os recursos para o pagamento de todas as despesas essenciais e o que sobrar pode ser aplicado para outras finalidades, como gastos com o lazer. O problema é que, na prática, esse raciocínio fica bem mais complexo para a maioria das pessoas.


A dificuldade pode ser acompanhada por meio da realidade financeira da maior parte dos brasileiros. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 8 a cada 10 pessoas estão endividadas no Brasil. Esse é o maior volume de endividados desde 2010, quando teve início a série histórica monitorada pelo CNC.


Além da renda ser inferior às despesas, a ausência de uma educação financeira ainda na infância contribui para que essas pessoas não tenham a capacidade de “honrar” com os seus compromissos e criem um comportamento quase cultural propício ao endividamento.


“Viemos de uma sociedade em que os pais são endividados e os avós também foram endividados. Então, por que a próxima geração não será endividada? Essa lógica precisa ser descontruída na base, que é a escola”, André Barretto, CEO e fundador do n2, fintech que oferece orientação financeira para pessoas que se encontraram endividadas.


Mas o surgimento do projeto “Jogos de Educação Financeira”, do Instituto Brasil Solidário (IBS), organização da sociedade civil de interesse público, em 2017, tem o propósito de mudar essa realidade ao levar a educação financeira para a sala de aula. As escolas dos municípios cearenses de Cascavel, Beberibe e Pindoretama foram as primeiras a receber os jogos educativos. Naquela época, apenas 20 mil estudantes estavam envolvidos. Cinco anos depois, o projeto alcança um total de 1 milhão de alunos distribuídos em 4 mil escolas públicas espalhadas em todos os estados brasileiros.


“Defendemos que as finanças não são apenas matemática. Você pode fazer conta, mas se você não souber o que fazer com essa conta não vai para lugar nenhum. Então, provocamos muito (nos alunos) sobre as finanças (pessoais) do presente, do futuro e sobre os planos de aposentadoria por meio dos jogos”, diz Luis Salvatore, diretor-presidente do IBS.


O instituto é responsável pela entrega do material didático para as escolas e pela formação dos professores com uma carga horária de 72 horas. Após essa etapa, cabe ao município a execução dos projetos dentro das salas de aula. Para as secretarias de educação, a principal vantagem dessa parceria com o IBS está no acesso a uma metodologia educacional já pronta e eficiente sobre educação financeira voltada para as crianças e adolescentes.


No caso de Sobral, o trabalho em conjunto com o instituto desde 2019 possibilitou para a rede municipal ampliar a atividade para outros campos da educação. Segundo Herbet Lima, secretário de Educação do município, as olimpíadas de matemática realizadas com os alunos da cidade incluíram algumas temáticas de educação financeira que foram desenvolvidas no projeto.


“Hoje, faz parte da política educacional de Sobral”, diz. “O nosso objetivo é fortalecer essa parceria com o instituto, aumentar o número de jogos disponíveis por unidade escolar e tentar trazer essa modalidade para a educação infantil”, acrescenta.


Assunto de adulto?


O trabalho da organização atua em linha com os direcionamentos da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) que incluiu em 2020 a educação financeira como tema obrigatório em todas as turmas da educação infantil até o ensino médio. A inclusão da temática no currículo escolar quebra a falsa ideia de que dinheiro é um assunto para adultos. Pelo contrário, reforça a necessidade de abordar o tema ainda na infância para reduzir as chances de endividamento ao alcançar a fase adulta.


“O resultado (da ausência dessa formação) é o adulto não saber se organizar e planejar sua vida com a entrada de uma receita. A prática mais comum é passar a comprometer a renda futura com parcelas e créditos para compra de bens e serviços”, diz Eduardo M. Reis Filho, especialista em educação financeira e de investidores da Ágora.


No caso dos alunos atendidos pelo IBS, a tendência é que deixem de lado a cultura do endividamento ao atingir a fase adulta para dar espaço à responsabilidade financeira e a preocupação com o futuro. A nova postura em relação ao dinheiro pode até acelerar a entrada de novos investidores na Bolsa de Valores ao longo dos próximos anos.


Segundo dados da B3, de 2018 até o primeiro semestre de 2022, o número de investidores pessoa física cresceu 528,5%. A entrada expressiva de brasileiros na bolsa tem relação com a popularização de assuntos relacionados ao mercado financeiro na internet, por meio das redes sociais.


O problema é que parte desse novo público ainda possui uma visão de curto prazo sobre os investimentos. Essa perspectiva “imediatista” aumenta os riscos atrelados às aplicações financeiras e impede que o investidor consiga ter remunerações mais atrativas. Por outro lado, a consciência de uma visão de longo prazo não é um processo simples a ser desenvolvido quando o investidor não tem uma educação financeira desde a infância.


“Quando a gente ensina a necessidade de pensar no longo prazo desde criança, o primeiro passo dela será desta forma. É diferente para uma pessoa que não teve essa educação cedo porque, dependendo da fase da vida, ela terá mais despesas ao ponto de não ter recursos para investir”, afirma Bruna Magalhães, head de Educação da Empiricus.

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  • menseseguros

METÉRIA PUBLICADA NO CQVCS - Juliana Winge - 24/08/2022


A contratação do Seguro de Vida não garante apenas prevenção caso aconteça algo inesperado, e sim a proteção à renda familiar. A afirmação foi feita por Edson Franco, CEO da Zurich Brasil, no programa Bate-bola com Gustavo Doria Filho. “Não existe proteção ao patrimônio se não houver proteção à renda. Quando falha em proteger a renda da família, a primeira coisa que vai embora é o patrimônio”, disse. Por isso, o papel do corretor de seguros como um consultor é, na opinião do executivo, cada vez mais importante para apontar qual o melhor desenho de cobertura securitária que o cliente precisa.


Franco acredita que a mudança de entendimento em relação ao seguro de vida é fundamental. “Para o Corretor de Seguros, esta não é apenas uma oportunidade comercial, mas de entregar valor para a sociedade, de perceber o valor que podemos agregar para a sociedade alertando as pessoas da importância de se ter um seguro de proteção à renda. A gente não vende seguro de vida, vendemos a segurança da família e o patrimônio: carro, imóvel, educação dos filhos e a capacidade de preservação da renda”, afirmou.


Apesar de todos os aspectos negativos, a pandemia teve um reflexo muito positivo para os brasileiros, pois aumentou o entendimento quanto a importância deste tipo de proteção. Segundo dados do CEO, entre abril de 2020 e julho de 2022, foram 180 mil famílias assistidas em um total de quase 700 mil mortes por covid, gerando uma indenização próxima a R$ 7 bilhões. “Nos primeiros meses, nós como mercado segurador nos deparamos com um dilema porque do ponto de vista técnico, atos de guerra, terrorismo, pandemias e situações de força maior representam risco excluído. O mercado fez uma reflexão ponderada, mas muito corajosa, nesta oportunidade e entendeu que, naquele momento, a gente não poderia tomar uma decisão de não dar cobertura pra essas mortes e sinistros”, lembrou.

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